Grifes caríssimas, tecidos impecáveis, cortes perfeitos — e nenhum logotipo à vista. Esse é o universo do quiet luxury, o luxo que sussurra, mas custa alto. Popularizado pela série americana “Succession”, o estilo que valoriza a discrição chega agora ao horário nobre da televisão brasileira com uma representante à altura: Odete Roitman, interpretada por Débora Bloch na nova versão de Vale Tudo.
Inspirada em ícones como Carolina Herrera, Costanza Pascolato e até Miranda Priestly de O Diabo Veste Prada, a nova Odete encarna o estilo de vida reservado e ultraexclusivo do 1% que prefere o silêncio da sofisticação à ostentação digital. “É um código silencioso entre quem sabe”, explica a jornalista de moda Glória Kalil. “Uma blusa que parece básica, mas custa US$ 10 mil por ser feita com pelo de camelo. Brilho? Só se for quase invisível.”
Luxo que não posa para selfie
No quiet luxury, o que brilha não está nas vitrines — mas nos detalhes que só os iniciados percebem. É o luxo de quem evita Instagram, foge de flashes e faz viagens fora da alta temporada, para destinos discretos como Cazaquistão, Islândia e Pantanal. Como explica o consultor Bruno Astuto, “eles não fazem unboxing, não posam em jatos particulares e não querem ser influencers. Preferem o anonimato com passaporte carimbado em feiras de arte e retiros de meditação”.
Para a figurinista Marie Salles, a escolha estética de Odete Roitman tem função clara: representar uma elite real, invisível ao grande público — mas com hábitos muito definidos. A atriz, no entanto, usará peças de brechó e segunda linha: “Vestir uma personagem com roupas da Loro Piana ou Hermès ultrapassaria o orçamento da produção”, admite Marie.
Discrição como símbolo de poder
A médica Ana Mamari, assistente há mais de duas décadas de um dos cirurgiões plásticos mais famosos do país, vive esse estilo fora da ficção. “A discrição é o verdadeiro luxo. Opto por roupas caras, mas evito qualquer tipo de exposição. O mesmo acontece com meus pacientes: fazem plásticas que ninguém percebe.”
Essa sofisticação silenciosa vai além do guarda-roupa. Ela se reflete em arquitetura minimalista, gastronomia essencialista e destinos de viagem que trocam piscinas cinco estrelas por experiências autênticas. “Hoje o valor está na vivência, não na selfie”, afirma Camilla Barretto, CEO da Brazilian Luxury Travel Association. “Mais vale aprender a pescar siri com um guia local do que acumular amenities num resort de luxo.”
Os mandamentos do luxo silencioso
Nada de ostentação: logotipos à mostra são tabu.
Tecidos nobres: cashmere, seda e cortes perfeitos são a regra.
Tons sóbrios: bege, cinza, preto e branco dominam.
Sem estampas: lisos ou padrões quase invisíveis.
Brilho? Quase nenhum: o exagero é considerado cafona.
Preços nas alturas: um suéter discreto pode passar dos R$ 10 mil.
Identidade discreta: quem usa sabe, quem vê... talvez não perceba.
Do closet ao comportamento, o quiet luxury virou mais que uma tendência — é um estilo de vida que transforma o “menos” em algo exclusivo e inatingível. E, a partir do dia 26, será também uma das apostas mais ousadas da dramaturgia brasileira para retratar o poder moderno: aquele que se esconde à vista de todos.