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100 anos de Janete Clair: a autora que conquistou e parou o Brasil



Em várias ocasiões, a mineira Janete Clair viu suas histórias se entrelaçarem com a própria história do Brasil. Um exemplo emblemático foi Irmãos Coragem, protagonizada por Tarcísio Meira, cuja audiência superou até mesmo a final da Copa do Mundo de 1970, vencida pela seleção brasileira de Pelé.

Mobilizar um país inteiro com suas novelas se tornaria uma marca da autora, que, neste 25 de abril, completaria 100 anos.

Natural da cidade de Conquista, Janete foi datilógrafa e atriz de radionovela antes de iniciar sua carreira como escritora. Casada com o também dramaturgo Dias Gomes que mais tarde se tornaria seu colega de profissão na televisão, ela conquistou apelidos como "Maga das 8" e "Usineira dos Sonhos", este último refletindo a vasta e inesquecível obra que deixou.

Sua trajetória na TV Globo começou nos anos 1960, após passagens pelas extintas TV Rio, TV Tupi e TV Itacolomi, numa contratação realizada por Boni, então diretor de programação da emissora.

"Janete Clair foi uma renovadora da dramaturgia da Globo na década de 1960", explica o pesquisador Nilson Xavier.

Em 1967, ela assumiu a novela Anastácia, a Mulher sem Destino após o afastamento do autor Emiliano Queiroz. Para solucionar a trama considerada confusa, Janete promoveu um terremoto na história, eliminando personagens e saltando 20 anos no enredo — uma demonstração de sua habilidade em enfrentar contratempos.

Ainda em 1967, passou a ocupar a cobiçada faixa das 20h, inicialmente adaptando romances e radionovelas, como em Sangue e Areia. Contudo, a necessidade de modernizar a dramaturgia, influenciada pelo sucesso de Beto Rockfeller na TV Tupi, exigia mudanças.

Atendendo aos desejos de Boni, Janete criou Véu de Noiva (1969), abandonando adaptações e mergulhando na realidade brasileira contemporânea, especialmente o Rio de Janeiro do final da década de 60.

Em 1972, alcançou um feito histórico com Selva de Pedra: no capítulo em que Simone (Regina Duarte) é desmascarada, a novela atingiu 100% de participação dos televisores ligados no Rio de Janeiro a maior audiência da televisão brasileira até então.

Embora seu estilo romântico e escapista continuasse popular, já começava a dar sinais de desgaste. Em 1975, Janete promoveu uma virada: enquanto escrevia Bravo para a faixa das 19h, foi chamada às pressas para substituir uma novela censurada no horário nobre. Em poucas semanas, escreveu Pecado Capital, adotando um tom mais realista.

"Janete era o próprio público. Ela escrevia chorando. Seus capítulos tinham manchas de lágrimas, tamanha a emoção com que criava suas histórias", relembrou Daniel Filho, diretor e principal colaborador da autora, em depoimento ao projeto Memória Globo.

Inicialmente, Janete planejava um final feliz para Carlão (Francisco Cuoco) e Lucinha (Betty Faria), mas, a pedido de Daniel Filho, alterou o desfecho: Carlão morre abraçado à mala de dinheiro uma cena icônica da teledramaturgia brasileira.

Ainda nos anos 1970, Janete consolidou seu legado com sucessos como O Astro (1977) e Pai Herói (1979), além de incentivar novos talentos como Gilberto Braga e Gloria Perez, esta última orientada por ela pouco antes de sua morte, em 1983, vítima de câncer no intestino.

"Janete Clair foi fundamental para a TV Globo e para a teledramaturgia nacional", afirma Nilson Xavier. "Ela ajudou a transformar a telenovela em um verdadeiro fenômeno cultural, criando o hábito que atravessa gerações de brasileiros."

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