Funcionários efetivos da Secretaria Municipal de Saúde de Várzea Grande relataram, em uma denúncia encaminhada ao portal VGN, uma atmosfera de descontentamento, medo e desvalorização após os primeiros meses sob a nova gestão da prefeita Flávia Moretti (PL).
Apesar do discurso da secretária Deise Bocalon enfatizando a valorização técnica, os testemunhos apontam que, na realidade, têm predominado o favorecimento político, a perseguição e o uso questionável dos recursos públicos.
Uma enfermeira concursada, que optou por permanecer anônima devido ao receio de represálias, entrou em contato com a redação do VGN para fazer um apelo em nome de colegas que, assim como ela, se sentem desvalorizados e ameaçados no local de trabalho.
Ela expressou que, com a mudança de governo, havia esperanças de valorização profissional, mas a realidade tem se mostrado decepcionante.
“Nós acreditávamos que, com a nova administração, seríamos finalmente reconhecidos. Porém, o que ocorre é mais do mesmo e, na Secretaria de Saúde, até pior. Temos a sensação de que não somos ouvidos, nem valorizados pela administração vigente”, declarou.
Uma das principais reclamações envolve a contratação de servidores emprestados pela Prefeitura de Cuiabá e pelo Governo do Estado, que, além de ocupar posições-chave, têm seus salários totalmente pagos por Várzea Grande.
Segundo a denúncia, apenas cinco desses servidores representam um custo mensal superior a R$ 100 mil na folha de pagamento da saúde somando mais de R$ 1,4 milhão anualmente, levando em conta os encargos e o 13º salário.
Dentre os nomes citados está a própria secretária Deise Bocalon, além de outros funcionários com conexões políticas com a administração atual. Os profissionais de carreira consideram essas contratações um evidente sinal de desvalorização dos servidores efetivos.
“Enquanto lutamos por direitos fundamentais como reajustes, adicional por insalubridade e pagamento adequados de horas extras, a prefeita investe em servidores emprestados que nem sequer conhecem os bairros de Várzea Grande,” destacou a denunciante.
Nomeações políticas e desvio de função
A enfermeira também reclama do uso político das funções de coordenador (DNS 4), que estariam sendo utilizadas para favorecer vereadores e aliados da prefeita.
Entre os exemplos citados, estão nomeações sem qualificações técnicas ou com claros desvios de função: L.Z.C., designada como coordenadora de Regulação, atua na recepção do gabinete da secretária; W.A.S., coordenador de Obras e Projetos, trabalha no setor de Tecnologia da Informação e L.N.B.S., coordenadora de Atenção Básica, não possui formação na área da saúde e veio do gabinete de um ex-vereador.
Todos os atos de nomeação foram devidamente publicados no Diário Oficial dos Municípios (AMM), o que, segundo os servidores, confirma o conteúdo das denúncias.
Contratos e favorecimento
A acusação também indica a intenção da administração em contratar empresas privadas para gerenciar as UPAs municipais. De acordo com os testemunhos, o programa Fila Zero estaria sendo mal utilizado, supostamente para beneficiar amigos e familiares de gestores.
Entre os supostos favorecidos está o marido da subsecretária de Saúde, Erika Carvalho, que, apesar de estar sendo investigada por suposta participação em um esquema de pirâmide financeira, continua a realizar atendimentos no Centro de Especialidades Médicas (Postão), tendo prioridade sobre a população em geral. E o mais grave é que isso ocorre sem um contrato de prestação de serviços firmado com o município.
Pedido por valorização e consideração
A denunciante concluiu com um pedido para que haja valorização e respeito pelos profissionais concursados, que enfrentam exigências severas para justificar suas ausências e apresentar atestados médicos, ao mesmo tempo em que testemunham o aumento da desigualdade no tratamento dentro da Secretaria.
Resposta oficial
Nota de Esclarecimento – Secretaria Municipal de Saúde de Várzea Grande
Por meio de uma nota, a Prefeitura de Várzea Grande comunicou que todas as nomeações feitas na Secretaria Municipal de Saúde obedecem totalmente à legislação atual.
"Todas as ações administrativas são publicadas de forma apropriada no Diário Oficial dos Municípios e estão disponíveis no Portal da Transparência, acessíveis a qualquer cidadão que deseje consultá-las.
Esclarecemos que atualmente não existe nenhum servidor nomeado ou contratado na Secretaria que tenha vínculo familiar com a responsável pela pasta."
Além disso, a Prefeitura informou que não há, neste momento, nenhum processo para terceirização das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) na cidade. Sobre o Programa Fila Zero, "enfatizamos que a Secretaria Municipal de Saúde opera conforme as diretrizes definidas pelo Governo do Estado de Mato Grosso.
Todos os usuários que recebem atendimento seguem os procedimentos normais estipulados pelas leis atuais do Sistema Único de Saúde (SUS), orientando as atividades da pasta."
Por último, a Prefeitura ressaltou que todas as informações sobre servidores, nomeações e outras ações administrativas podem ser encontradas no Portal da Transparência e no site oficial da Prefeitura de Várzea Grande.