30 de Abril de 2025, 15h:29 - A | A

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Negligência faz irmãos perderem rim em transplante; ação milionária é movida



O que deveria ser um instante de esperança e um novo começo se converteu em um trauma prolongado para dois irmãos da Paraíba.

Após longos meses no SUS aguardando um transplante de rim, Genilson dos Santos estava convencido de que finalmente poderia recuperar sua vida ao receber um rim saudável de seu irmão, José Enilson.

No entanto, complicações durante a cirurgia resultaram na perda do órgão apenas algumas horas após o procedimento.

O transplante ocorreu em maio de 2022. Genilson foi para a sala de cirurgia às 10h. O prontuário eletrônico indicava que o anestesista designado para o procedimento deveria estar presente até pelo menos às 14h30.

Contudo, registros mostram que o mesmo médico fazia parte da equipe de outra cirurgia que começou às 10h30.

Genilson relatou que em certo momento da cirurgia, a anestesia pareceu perder efeito. Ele afirma que voltou a si e se moveu na mesa, o que pegou a equipe médica de surpresa.

Um movimento abrupto causou uma lesão e fez com que ocorresse uma hemorragia. A situação rapidamente evoluiu para trombose, levando à necessidade de remoção do rim transplantado.

A cirurgia, que prometia iniciar uma nova etapa na vida dos irmãos, tornou-se o início de uma batalha por justiça. O doador, que antes era saudável, agora vive apenas com um rim e requer cuidados constantes.

Genilson, por sua vez, ainda é dependente de diálises três vezes na semana, percorrendo aproximadamente 130 km para receber o tratamento.

“Minha vida está comprometida. Eu tinha muita esperança. Depois de tanto tempo, estávamos acreditando que tudo iria melhorar. Mas saí da cirurgia com a mesma dor e uma nova cicatriz”, desabafou Genilson.

Atualmente, ele sobrevive com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), enquanto seu irmão também enfrenta restrições para manter sua saúde.

O advogado da família, Paulo Antonio Maia e Silva Júnior, alega que houve negligência, principalmente por parte do anestesista. “O profissional tinha a obrigação de permanecer na sala durante todo o procedimento.

Não cabe ao cirurgião monitorar os níveis da anestesia. O erro, neste caso, começa quando o anestesista tenta se dividir entre duas cirurgias simultaneamente.”

A família está processando o hospital onde o transplante foi realizado e o médico responsável pela anestesia. Eles solicitam R$ 2 milhões em reparação por danos físicos, emocionais e morais.

A audiência de instrução e julgamento está agendada para o dia 10 de junho. A coluna tentou contatar o hospital, que ainda não se manifestou. O espaço permanece disponível.

O anestesista em questão já havia sido expulso da cooperativa estadual da sua especialidade meses antes da realização do transplante.

Essa decisão foi tomada após ele repetir comportamentos considerados antiéticos. Um dos motivos envolveu a insistência em realizar múltiplos procedimentos simultaneamente, o que é proibido pelas diretrizes da profissão.

Denúncias anteriores indicavam que esse profissional fazia parte de grupos restritos em hospitais que limitavam a atuação de colegas fora dessas estruturas, dificultando a concorrência justa e prejudicando a segurança do serviço prestado.

De acordo com o advogado das vítimas, essa forma de organização informal favorece a realização de muitos procedimentos por um único médico, o que não só é antiético, mas também afeta a qualidade do atendimento.

“Não é viável estar em duas cirurgias ao mesmo tempo com o mesmo nível de atenção. Isso não é aceitável em nenhuma área da medicina”, disse ele.

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