Da Redação
O jejum intermitente virou tendência entre quem busca emagrecer de forma rápida e prática. A proposta parece simples: alternar períodos sem comer que podem variar de 16 a 24 horas com janelas de alimentação. A promessa é que, nesse intervalo, o corpo recorra às reservas de gordura como fonte de energia.
Mas se você aderiu à estratégia e não viu o ponteiro da balança se mexer, não está sozinho. Nutricionistas alertam: o erro pode estar justamente no que você come quando não está em jejum.
Jejum não é passe livre para exageros
A nutricionista Josefina Bressan, professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV), explica que muitos acreditam que só ficar horas sem comer já garante o emagrecimento. Na prática, isso não é bem assim.
“Se a pessoa compensa na janela de alimentação comendo mais no almoço, no lanche e no jantar ela pode até ultrapassar o número de calorias necessárias no dia e, consequentemente, não emagrece”, alerta.
O segredo não está apenas no tempo sem comer, mas sim no equilíbrio das calorias e na qualidade dos alimentos consumidos.
Atenção aos picos de açúcar
Outro erro comum é quebrar o jejum com alimentos ricos em açúcares e carboidratos simples, como pães brancos, doces e refrigerantes. Segundo a nutróloga Bruna Manes, do Rio de Janeiro, essa prática gera um pico de glicose e insulina, favorecendo o armazenamento de gordura.
“O corpo entende esse excesso de glicose como energia que precisa ser guardada. Resultado: vai direto para o estoque, na forma de gordura”, explica.
A dica? Priorize proteínas, gorduras saudáveis e carboidratos complexos, que ajudam a controlar a fome e estabilizar os níveis de açúcar no sangue.
Nem todo jejum é igual
Existem vários modelos de jejum intermitente. Os mais comuns são:
16/8: 16 horas em jejum e 8 horas de alimentação.
18/6: 18 horas sem comer e 6 horas para as refeições.
5/2: Dois dias na semana com restrição extrema (até jejum total) e cinco dias com alimentação controlada.
“O ideal é começar aos poucos, permitindo que o corpo se adapte gradualmente. Assim, evitamos quedas bruscas de energia, tontura e até crises de compulsão”, orienta Bruna.
O que comer na janela de alimentação?
A nutricionista Vanessa Costa lista os alimentos que devem ser prioridade:
Proteínas magras: ovos, frango, peixes e leguminosas.
Carboidratos complexos: arroz integral, batata-doce, quinoa e feijão.
Gorduras saudáveis: azeite, abacate, castanhas e amêndoas.
Frutas e vegetais: fontes de fibras, vitaminas e minerais.
E alerta: fuja dos ultraprocessados, fast food, doces e alimentos ricos em gordura saturada. Eles comprometem tanto os efeitos do jejum quanto sua saúde a longo prazo.
Jejum pode, sim, ter efeitos colaterais
Embora o jejum intermitente funcione para muitos, ele não é uma fórmula mágica nem serve para todo mundo. Um estudo recente da Faculdade de Medicina da USP, publicado em 2024, apontou que o jejum prolongado pode aumentar episódios de compulsão alimentar, especialmente entre jovens.
A pesquisa revelou que longas horas sem comer podem gerar um ciclo de restrição e descontrole, prejudicando a relação com a comida.
Jejum intermitente não é para todo mundo
Segundo especialistas, antes de iniciar qualquer protocolo, é essencial avaliar questões como:
Saúde hormonal
Condições clínicas pré-existentes
Rotina diária e nível de atividade física
“O jejum pode ser uma ferramenta útil, mas não substitui uma alimentação equilibrada e nem é indicado para todos”, reforça Vanessa Costa. “O acompanhamento profissional é indispensável.”
Em resumo: Jejum intermitente ajuda, sim, a emagrecer — desde que feito com orientação, estratégia e responsabilidade. Caso contrário, pode se transformar em mais uma armadilha das dietas da moda.