Diante da crescente pressão interna e do agravamento da economia dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump parece começar a suavizar seu discurso protecionista, buscando soluções negociadas com dois de seus principais alvos tarifários: China e México. A informação foi divulgada por veículos de comunicação chineses e por agências internacionais nesta quinta-feira (1º), destacando que Washington teria adotado uma postura mais conciliatória após uma sequência de indicadores econômicos negativos e aumento da insatisfação no setor industrial.
De acordo com o portal Yuyuantantian, ligado à Televisão Central da China (CCTV), representantes dos EUA entraram em contato com autoridades chinesas por meio de diversos canais. A publicação aponta que a iniciativa partiu dos norte-americanos e reflete a crescente ansiedade de Trump em alcançar um acordo para reduzir os impactos de seu tarifaço, iniciado no começo de seu segundo mandato, em janeiro.
China à frente nas negociações
A China, no entanto, não parece estar apressada. Em um post nas redes sociais, o perfil oficial do governo chinês no Weibo sugeriu que "os EUA são claramente a parte mais ansiosa" nas negociações. "A China não precisa negociar até que os Estados Unidos tomem ações concretas", afirmou o perfil, indicando que, apesar das conversas, Pequim não está disposta a ceder sem mudanças significativas por parte dos americanos.
Abertura para o México e recuos silenciosos
Além da China, o governo dos Estados Unidos também demonstrou sinais de moderação em relação ao México. A presidente mexicana Claudia Sheinbaum revelou que recebeu uma ligação de Trump, classificando a conversa como "muito positiva". Segundo Sheinbaum, o diálogo serviu como base para o avanço de negociações comerciais entre os dois países, com equipes técnicas trabalhando em alternativas para melhorar a balança comercial.
Em uma ação paralela, Trump assinou, na terça-feira, uma ordem executiva que alivia as tarifas sobre a importação de automóveis. A medida, que veio após intensas pressões de montadoras e fornecedores americanos, visa evitar aumentos de preços e demissões em massa nas fábricas, mostrando uma tentativa de amenizar os efeitos de suas políticas protecionistas.
Recessão à vista: o impacto econômico das tarifas
Essas mudanças na postura de Trump ocorrem em meio ao agravamento da recessão nos Estados Unidos. O Departamento de Trabalho reportou um aumento de 18 mil nos pedidos de seguro-desemprego, atingindo 241 mil solicitações, o maior número desde fevereiro. Além disso, o índice de atividade industrial do país caiu para 48,7 pontos, com a produção industrial despencando mais de quatro pontos, indicando uma desaceleração da economia.
As consequências já são visíveis no setor corporativo. A General Motors revisou sua projeção de lucro para 2025, reduzindo sua previsão de ganhos em até 20% devido aos custos com tarifas. Outras gigantes, como Amazon e McDonald's, também apresentaram resultados abaixo das expectativas, sinalizando que as políticas de Trump estão afetando negativamente grandes empresas americanas.
Mercados em alta, mas incertezas persistem
Apesar dos desafios econômicos, o mercado acionário dos Estados Unidos registrou ganhos nesta quinta-feira, impulsionado por bons resultados de gigantes como Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) e Microsoft. O Dow Jones subiu 0,21%, alcançando 40.752 pontos, enquanto o S&P 500 avançou 0,63%, e o Nasdaq teve alta de 1,52%, mostrando que o mercado financeiro ainda encontra certo otimismo, mesmo diante da instabilidade econômica.
A espera por um gesto da China
Embora Trump tenha repetido em diversas ocasiões que um avanço nas negociações com a China depende de um gesto de boa vontade de Pequim, os sinais de flexibilização por parte dos EUA indicam uma revisão de postura. O presidente americano, em uma reunião com sua equipe, afirmou recentemente que a China "estava se saindo bem" nas negociações, mas que a redução do comércio bilateral o incomodava. Para Trump, a iniciativa de resolver as tensões comerciais deve partir da China, mas, diante da deterioração econômica interna, sua administração começa a reconsiderar sua postura agressiva.
Essas movimentações deixam claro que, embora o governo Trump ainda insista em se apresentar como protagonista nas negociações, a pressão econômica interna e o desgaste com o setor empresarial têm levado a uma série de recuos discretos e negociações de bastidores, com o objetivo de mitigar os impactos de suas políticas tarifárias.