Da Redação
O Supremo Tribunal Federal (STF) deu início nesta segunda-feira (9) aos interrogatórios dos réus do chamado "núcleo 1" da investigação sobre uma suposta trama golpista. O primeiro a ser ouvido foi o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro e atualmente colaborador da Justiça, por meio de um acordo de delação premiada.
Durante seu depoimento, Mauro Cid confirmou a existência de pelo menos duas reuniões nas quais um documento com propostas de medidas antidemocráticas foi apresentado a Bolsonaro. Entre as sugestões, estariam a decretação de estado de sítio e a prisão de ministros do STF e de outras autoridades. Segundo Cid, o texto foi levado pelo ex-assessor de assuntos internacionais Felipe Martins e lido pessoalmente por Bolsonaro, que teria inclusive sugerido algumas alterações no conteúdo.
Clique aqui para entrar em nosso grupo do whatsapp
"O documento consistia em duas partes. A primeira eram os considerados, bem extensos, listando possíveis interferências do STF e TSE. A segunda parte tratava de medidas jurídicas, como estado de defesa, estado de sítio e prisões de autoridades", relatou Mauro Cid, enfatizando que presenciou os fatos, mas não teve participação direta na elaboração. Ele também reafirmou o conteúdo de sua delação premiada à Polícia Federal e negou qualquer tipo de coação para firmar o acordo. Cid responde por crimes relacionados à tentativa de subverter a ordem democrática após as eleições de 2022.
Os interrogatórios, conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, prosseguirão até a próxima sexta-feira (13). A lista de depoentes inclui nomes de peso do governo anterior e figuras militares:
-
Mauro Cid (delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro)
-
Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin)
-
Almir Garnier (ex-comandante da Marinha)
-
Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do DF)
-
Augusto Heleno (ex-ministro do GSI)
-
Jair Bolsonaro (ex-presidente da República)
-
Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa)
-
Walter Braga Netto (general da reserva e ex-ministro)
Vale ressaltar que Walter Braga Netto será o único a depor por videoconferência, pois está preso desde dezembro de 2024, acusado de tentar atrapalhar investigações e acessar ilegalmente informações da delação de Mauro Cid.
É importante destacar que, como réus, todos os envolvidos têm o direito constitucional de permanecer em silêncio durante as oitivas. As sessões estão sendo transmitidas ao vivo pela TV Justiça.
Essa fase de interrogatórios marca o fim da instrução da ação penal, ou seja, a coleta de provas e depoimentos. A expectativa é que o julgamento final do caso ocorra no segundo semestre deste ano. Em caso de condenação, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.