Da Redação
A Polícia Federal (PF) concluiu que o general Braga Netto foi uma "figura central" na estratégia para minar a confiança no sistema eleitoral brasileiro durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa conclusão faz parte de um novo relatório sobre as investigações da tentativa de golpe de Estado, que foi enviado nesta quarta-feira (18) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento é resultado da análise do celular do coronel do Exército Flávio Botelho Peregrino, que foi assessor de Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro e candidato a vice-presidente em 2022. O general está preso desde dezembro do ano passado, acusado de tentar atrapalhar a investigação do golpe e de tentar conseguir detalhes da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O relatório da PF é categórico: "As trocas de mensagens confirmaram a atuação do general Braga Netto como uma figura central para a implementação das estratégias visando desacreditar o sistema eleitoral e o pleito de 2022". A PF encontrou mensagens em um grupo de WhatsApp chamado "Eleições 2022", que incluía Braga Netto e Peregrino. De acordo com os investigadores, eles trabalharam na criação de um documento com informações falsas sobre fraudes nas urnas, que seria enviado ao então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, e apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para sugerir que seria possível fraudar as urnas eletrônicas. A PF também apontou que dados falsos foram enviados para embasar a ação do Partido Liberal (PL) no TSE, na qual o partido alegou suspeitas de fraude no primeiro turno das eleições de 2022. Além disso, o grupo teria espalhado desinformação baseada em "estudos falsos" para descredibilizar as eleições presidenciais, repassando esse conteúdo a influenciadores digitais apoiadores de Bolsonaro, como o argentino Fernando Cerimedo.
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Conversas encontradas no celular de Flávio Botelho Peregrino também indicam que o ex-assessor de Braga Netto obteve informações sobre o conteúdo da delação premiada de Mauro Cid. Em um diálogo com um jornalista, Peregrino comentou que teve acesso à delação, dizendo: "No caso da delação especificamente, acredito que alguém teve acesso ao Cid e já me passou as informações". Isso sugere uma tentativa de obter detalhes confidenciais de uma investigação em andamento.
Os investigadores afirmam ainda que o "intento golpista" já estava presente nos eventos de 7 de setembro de 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro fez ataques contra os ministros do STF e declarou que não cumpriria decisões judiciais de Alexandre de Moraes. De acordo com a PF, uma conversa de WhatsApp entre Braga Netto e Mauro Cid mostra que ambos sabiam da "gravidade dos fatos que seriam executados com o objetivo de subverter o regime democrático". O diálogo tratou de uma carta à nação, divulgada por Bolsonaro em 9 de setembro de 2021, para tentar amenizar as declarações golpistas do feriado.
No trecho da conversa, Mauro Cid escreve: "PR [Bolsonaro] apanhando muito. Tomara que não venham migalhas. Já vi esse mesmo filme 2 vezes. E o PR ficou chupando dedo". Em resposta, Braga Netto demonstra uma intenção de "ruptura institucional": "Você me falou. Mas agora nós podemos virar a mesa porque ele fez tudo para apaziguar". O general ainda completa: "Se não cumprirem, ele abre o jogo e viramos com ele. Os Cmts [comandantes] estão cientes. Ele vai para mídia conta o combinado e rompemos", o que, para a PF, é um claro sinal de tentativa de quebrar a ordem democrática.
Na semana passada, Braga Netto foi interrogado por Alexandre de Moraes e negou ter conhecimento da trama golpista. A defesa do general pediu uma acareação (confronto de depoimentos) entre Braga Netto e Mauro Cid, que está marcada para a próxima terça-feira (24). A defesa alega que é preciso esclarecer as acusações de que Braga Netto teria discutido o "plano Punhal Verde e Amarelo" – um suposto planejamento para assassinar autoridades – e que teria entregue dinheiro a Cid em uma sacola de vinho. Durante seu depoimento, o general negou ter conhecimento desse plano e de ter repassado dinheiro a Mauro Cid para ser entregue a militares de elite do Exército, conhecidos como "kids-pretos"
Com informações da Agência Brasil