21 de Abril de 2025, 13h:58 - A | A

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Mistérios a desvendar

JK: quais são as suspeitas que persistem sobre a morte “acidental” do presidente



Quase 50 anos após o trágico acidente que matou Juscelino Kubitschek, ex-presidente da República e idealizador de Brasília, o caso pode ganhar novos capítulos. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, deve decidir em maio se irá reabrir a investigação sobre a morte de JK, que ainda levanta suspeitas de um possível atentado político durante a ditadura militar.

Acidente ou atentado?
Kubitschek morreu em 22 de agosto de 1976, ao lado do motorista Geraldo Ribeiro, após o carro em que estavam colidir com um caminhão na Via Dutra, em Resende (RJ). Apesar dos diversos inquéritos abertos ao longo das décadas, o episódio nunca foi completamente esclarecido. Em 2019, o Ministério Público Federal arquivou a investigação mais recente, alegando que a má conservação das provas impedia uma conclusão definitiva.

Peritos apontaram falhas nos laudos técnicos e indícios de interferência da Polícia Civil do Rio de Janeiro na época. Documentos, fotografias, relatórios de comissões da verdade e depoimentos seguem sustentando a tese de que a morte de JK pode ter sido provocada por um atentado político.

Oposição à ditadura e o "plano internacional"
Após o golpe militar de 1964, Juscelino teve seus direitos políticos cassados e se exilou em Lisboa. De lá, articulou com João Goulart e Carlos Lacerda a chamada Frente Ampla, movimento que reunia lideranças civis contrárias ao regime. Documentos revelados em 1979 pelo jornalista Jack Anderson, nos Estados Unidos, indicam que JK era um dos alvos da Operação Condor, aliança entre regimes militares sul-americanos com apoio da CIA para eliminar opositores.

Em carta enviada em 1975 pelo chefe da inteligência do Chile, Manuel Contreras, ao general João Figueiredo — então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e futuro presidente do Brasil —, JK é citado nominalmente como “ameaça”. A correspondência detalha apoio mútuo em ações contra políticos eclesiásticos e socialdemocratas da América Latina.

Notícia falsa antecipou tragédia
Quinze dias antes do acidente fatal, veículos da imprensa publicaram, erroneamente, que JK havia morrido em um acidente automobilístico. A notícia, logo desmentida, causou estranhamento pela coincidência com o que viria a ocorrer dias depois. Assessores próximos acreditam que o boato foi um "teste psicológico" para medir a reação pública à morte do ex-presidente.

JK teria dito a pessoas próximas: “Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram.”

Detalhes suspeitos no dia da morte
Antes do acidente, JK e o motorista fizeram uma parada no Hotel Fazenda Villa Forte, em Resende, propriedade de um militar reformado. Relatos indicam que o motorista, ao retornar ao carro, percebeu algo estranho no veículo, mas seguiu viagem. Menos de 3 km depois, o carro invadiu a pista contrária e colidiu com um caminhão. A dinâmica do acidente, analisada por especialistas décadas depois, levantou dúvidas sobre a versão oficial.

Mortes em sequência e silêncio oficial
Nos nove meses seguintes à morte de JK, morreram também João Goulart (dezembro de 1976) e Carlos Lacerda (maio de 1977), os outros dois líderes da Frente Ampla. As mortes por supostos infartos geraram ainda mais desconfiança sobre uma ação coordenada para eliminar a oposição ao regime.

Somente em 2015, em depoimento ao MPF, o coronel chileno Manuel Contreras confirmou ser o autor da carta enviada a Figueiredo, mas se negou a associar os fatos. Morreu meses depois, sem prestar novos esclarecimentos.

Expectativa por decisão
A possível reabertura do caso, quase meio século depois, reacende debates sobre os crimes da ditadura e o direito à verdade histórica. Se aprovada, a nova investigação poderá, finalmente, esclarecer se o “acidente” que matou um dos presidentes mais populares do Brasil foi, na verdade, uma execução política cuidadosamente planejada.

 
 
 
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