02 de Junho de 2025, 10h:45 - A | A

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SEGREDO PÚBLICO

Governo federal gastou R$ 3,5 bilhões em viagens sigilosas de servidores desde 2014

Nomes, cargos, destinos e motivos de uma em cada oito viagens foram ocultados; maior proporção foi registrada nos governos Bolsonaro e Lula.



Um levantamento revela que o governo federal desembolsou, desde 2014, R$ 3,5 bilhões em viagens de servidores com informações protegidas por sigilo oficial. A cifra engloba custos com passagens, hospedagens, alimentação e deslocamentos — todos sem detalhar quem viajou, para onde e por qual motivo, em milhares de casos.

Os dados, apurados pela Folha de S.Paulo, mostram que uma em cada oito viagens realizadas no período esconde o nome do servidor. E, em parte dos registros, informações como destino, cargo e razão da viagem também foram omitidas — alguns, sob sigilo há mais de dez anos.

A maior parte do montante foi gasta com diárias, que somaram quase R$ 2,8 bilhões — ou seja, 20% de todo o gasto federal com esse tipo de despesa no período. As passagens com dados ocultos custaram R$ 712 milhões, cerca de 10% do total geral.

De acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério da Gestão e Inovação, cabe a cada órgão definir se as informações sobre a viagem serão classificadas como sigilosas, com respaldo na Lei de Acesso à Informação (LAI). O sigilo pode incluir o nome do servidor, o destino, o cargo e até o objetivo da missão.

Segurança e operações justificam, diz governo
Órgãos ligados à segurança pública estão entre os que mais recorrem ao sigilo. A Polícia Federal (PF) aparece com mais de 620 mil registros de viagens com dados ocultos, enquanto a Polícia Rodoviária Federal (PRF) contabiliza outros 400 mil. Ambas alegam que a exposição desses dados colocaria em risco agentes e operações.

A PF afirma que não há prazo fixo para derrubar o sigilo, que só é retirado quando se entende que não há mais riscos operacionais.

Presidência concentra maior volume de viagens protegidas
O levantamento também revela que a Presidência da República lidera os gastos com viagens protegidas. Somente na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram mais de 2 mil viagens com dados sigilosos — o que corresponde a 66% do total de viagens com sigilo feitas pela Presidência desde 2014. O custo supera R$ 4,8 milhões em passagens e diárias.

A justificativa, segundo o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), é a necessidade de preservar informações que envolvem a segurança do presidente, da primeira-dama e das equipes técnicas de apoio, em deslocamentos nacionais e internacionais.

Durante o governo Jair Bolsonaro, 16% das viagens tinham dados ocultos, o maior percentual registrado até então. A atual gestão Lula se aproxima desse índice, com 15% das viagens feitas até abril de 2025 sob sigilo. Nos governos anteriores, os percentuais foram menores: 12% no mandato de Dilma Rousseff e 11% na gestão de Michel Temer.

Questionamentos sobre prazos de sigilo
A legislação permite que informações sejam classificadas como reservadas (5 anos), secretas (10 anos) ou ultrassecretas (25 anos) — esse último nível só pode ser determinado por autoridades como presidente da República, vice, ministros de Estado e chefes das Forças Armadas.

Apesar disso, ainda existem mais de 4 mil viagens protegidas por sigilo realizadas nas gestões Dilma e Temer, o que levanta dúvidas sobre o cumprimento dos prazos legais e a real necessidade de manter esses dados longe dos olhos do público.

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