Empresários presos na Operação Overclean, da Polícia Federal, mantiveram negócios com o Estado de Goiás, sob gestão do governador Ronaldo Caiado (União Brasil). A revelação, feita pelo portal Goiás 24 Horas, amplia o alcance da investigação que apura um esquema bilionário de corrupção e lavagem de dinheiro.
Um dos contratos chama atenção: em junho de 2020, a Secretaria de Estado da Administração (SEAD) assinou acordo com a Larclean, empresa hoje apontada como peça-chave no esquema criminoso. A contratação, que previa serviços de desinsetização e controle de pragas, foi firmada durante a gestão do então secretário Bruno D’Abadia. Segundo a PF, o grupo envolvido embolsava recursos públicos sem entregar os serviços.
O contrato foi assinado por Fábio Rezende Parente, apontado como operador financeiro da quadrilha, liderada por seu irmão, Alex Rezende Parente. Os dois têm ligação direta com Marcos Moura, o “Rei do Lixo”, já preso por envolvimento em outras fraudes com dinheiro público.
Fraude milionária, contratos públicos e lavagem de dinheiro
A Polícia Federal descreve o esquema como uma estrutura criminosa "sofisticada e hierarquicamente organizada", que atuava em várias frentes: fraude em licitações, desvio de verbas públicas e ocultação de patrimônio por meio de empresas de fachada.
Além da Larclean, o nome de Fábio Parente aparece ligado a outras firmas sob suspeita: Allpha Pavimentações, FAP Participações LTDA. e Rezende Serviços Administrativos LTDA. Segundo os investigadores, ele era responsável por articular o núcleo financeiro da organização e movimentar propinas por meio de laranjas e empresas fantasmas, como a Bra Teles Ltda.
Há também indícios de uso irregular de emendas parlamentares para garantir a assinatura de contratos com prefeituras e órgãos estaduais.
Operador político ligado ao União Brasil está no centro da investigação
Outro personagem que amplia a teia política do escândalo é Samuel Franco, o "Samuca". Investigado por fraudes que somam mais de R$ 1,4 bilhão, ele já presidiu o diretório municipal do DEM (atual União Brasil) em Itabuna (BA) e mantém laços com ACM Neto — ex-presidente nacional do partido e principal articulador da pré-candidatura de Ronaldo Caiado à Presidência da República.
Em abril, Samuca foi alvo de busca e apreensão em sua casa, em Ilhéus, na terceira fase da Operação Overclean. Os agentes apreenderam documentos e eletrônicos que reforçam as suspeitas sobre o uso do setor imobiliário para lavagem de dinheiro.
Ele também aparece como sócio majoritário da Vento Sul Empreendimentos, que, em 2022, teve parte de sua sociedade vendida ao prefeito de Salvador, Bruno Reis, por R$ 60 mil. A operação, intermediada por uma empresa ligada à família do prefeito, está sob análise da PF.
Conexões políticas elevam a pressão sobre o governo de Goiás
As ligações entre os empresários presos e nomes influentes da política, incluindo aliados de Ronaldo Caiado, acendem o alerta sobre os bastidores da gestão goiana. Bruno Reis, envolvido na transação suspeita, é um dos apoiadores públicos da campanha presidencial de Caiado, fortalecendo a ligação entre os núcleos político e empresarial investigados.
Com os novos desdobramentos, a Operação Overclean deixa de ser apenas um caso de corrupção regional e passa a expor um possível elo entre organizações criminosas e estruturas de poder político em diferentes estados. A presença da SEAD de Goiás no centro das investigações impõe a necessidade de uma apuração rigorosa sobre os contratos firmados sob a gestão de Ronaldo Caiado.