A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que pretende investigar fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode acabar se tornando um revés político para os bolsonaristas que lideraram o pedido de sua criação. Apesar do entusiasmo da oposição, a composição da comissão tende a favorecer o governo Lula — cenário que reacende o temor de um novo "efeito boomerang" no Congresso.
Com o apoio de 236 deputados e 42 senadores, a CPMI conquistou o número necessário de assinaturas, mas a aritmética política não joga a favor da ala bolsonarista. Nos bastidores, parlamentares do próprio grupo já admitem que o Planalto deverá ter maioria na comissão, assim como ocorreu na CPMI dos Atos Golpistas de 8 de Janeiro, em 2023.Esse domínio do governo no colegiado pode alterar totalmente os rumos da investigação. Em vez de desgastar o presidente Lula, como planejam seus adversários, a CPMI pode abrir espaço para que aliados do Planalto tragam à tona irregularidades e fraudes previdenciárias ocorridas ainda durante a gestão de Jair Bolsonaro.
A aposta da oposição era instalar uma CPI exclusiva na Câmara dos Deputados, onde o bolsonarismo calcula ter maioria para controlar as investigações. No entanto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicou que não pretende furar a fila de outros 12 pedidos de CPI em tramitação — o que empurrou os parlamentares para a via mista.
Agora, o pedido de criação da CPMI do INSS está sob responsabilidade do presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União-AP), que já convocou sessão conjunta para o dia 17 de junho, quando deve ler oficialmente o requerimento da comissão.
Enquanto isso, cresce a apreensão entre bolsonaristas de que a tentativa de usar o INSS como munição política contra o governo possa acabar entregando o palco e o microfone ao Planalto. Se isso acontecer, o discurso de combate às fraudes pode sair pela culatra — e virar vitrine para que o governo Lula exponha falhas herdadas da gestão anterior.