No mesmo dia em que a Operação Perfídia escancarou um esquema de corrupção no coração da administração municipal, a Câmara de Cuiabá aprovou, com votação acelerada e maioria esmagadora, três projetos de autoria do prefeito Abilio Brunini (PL). A votação ocorreu nesta terça-feira (29), em meio à turbulência política que tomou conta da capital.
A proposta de maior impacto foi a reestruturação da Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP), que recebeu 22 votos favoráveis e nenhum contrário. O projeto transforma a ECSP em um braço técnico da Secretaria Municipal de Saúde, com poderes ampliados para atuar diretamente em licitações, contratações e gerenciamento de contratos, sob o argumento de “reduzir custos e melhorar o controle dos resultados”.
Além disso, foi aprovado o projeto que integra notificações urbanísticas e ambientais ao Domicílio Eletrônico Fiscal do Cidadão Cuiabano (DEC-Fiscal) — ferramenta já utilizada para questões tributárias. A proposta, segundo o Executivo, visa “modernizar a comunicação oficial da prefeitura com os cidadãos e reduzir gastos”.
Outro ponto controverso aprovado diz respeito à ampliação da carga horária de militares ligados ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que fazem a proteção do prefeito, da primeira-dama e da vice-prefeita. O novo texto eleva de 50 para 120 horas mensais o limite de jornada, mantendo o teto de oito horas diárias.
Mesmo diante da gravidade das suspeitas investigadas pela PF, o pacote passou sem resistência expressiva entre os parlamentares. As propostas foram apresentadas em regime de urgência, o que impediu um debate mais profundo em plenário. O gesto foi visto por parte da sociedade como um sinal de blindagem política ao prefeito em meio à crise.
A Prefeitura justificou as medidas como parte de um “esforço por eficiência, economia e segurança”, enquanto o clima político da capital segue em ebulição. O escândalo investigado pela PF ainda promete desdobramentos que podem mexer no tabuleiro eleitoral e administrativo nas próximas semanas.