Mesmo condenado por lavar milhões do tráfico de drogas para o Comando Vermelho em Mato Grosso, Paulo Witer Farias Paelo, 38 anos — conhecido no submundo do crime como “WT” — conseguiu por anos viver uma vida de ostentação, longe dos olhos da Justiça. Dono de um esquema que movimentou R$ 65 milhões em dinheiro ilícito, o tesoureiro da facção utilizou familiares, laranjas e empresas de fachada para lavar o capital do crime e exibir poder.
Investigações conduzidas pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) da Polícia Civil de Mato Grosso revelaram que Witer comandava uma estrutura complexa de lavagem de dinheiro. O grupo utilizava a compra de imóveis, veículos de luxo, times de futebol amador e até a construção de um centro esportivo como fachada para legalizar o dinheiro do tráfico. A rede criminosa se sustentava com aparência de legalidade e ações sociais, como distribuição de cestas básicas em comunidades carentes.
Apesar de já ter sido condenado a mais de 50 anos de prisão, Witer passou boa parte de sua pena em regime semiaberto, com monitoramento eletrônico — que driblava com frequência. Em um dos episódios mais escandalosos, em dezembro de 2023, a tornozeleira indicava que ele estava em Cuiabá, quando na verdade, passava o réveillon nas praias de Santa Catarina, saltando de paraquedas e curtindo o luxo financiado pelo crime.
A farsa chegou ao fim com a prisão em regime fechado, em abril de 2024, durante operações deflagradas pela Polícia Civil. WT foi transferido para a ala de segurança máxima da Penitenciária Central do Estado (Raio 8), onde estão os presos considerados de alta periculosidade. Mesmo isolado, segundo as autoridades, ele continuava dando ordens ao braço financeiro da facção.
Em decisão recente, o juiz João Francisco Campos de Almeida negou pedido da defesa para revogar o isolamento. O magistrado apontou que Paulo Witer ainda representa risco à ordem pública e que há provas de que ele manteve influência no esquema criminoso mesmo de dentro da prisão.
O caso escancara as brechas do sistema penal brasileiro e a ousadia de criminosos de alta periculosidade que, mesmo condenados, conseguem transformar suas penas em palco de ostentação e continuidade do crime.