02 de Maio de 2025, 12h:23 - A | A

HOME » Polícia » Rompimento entre PCC e Comando Vermelho ainda não atinge Mato Grosso, indicam investigações

rotas do tráfico

Rompimento entre PCC e Comando Vermelho ainda não atinge Mato Grosso, indicam investigações



Apesar dos rumores de um racha entre duas das maiores facções criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), investigações recentes apontam que a suposta ruptura não teve efeitos práticos em estados como Mato Grosso, Bahia e Ceará.

A cisão, anunciada por meio de mensagens espalhadas pelo WhatsApp no fim de abril, teria sido motivada por disputas de rotas do tráfico e pelo descontentamento do PCC com os métodos violentos adotados pelo CV em áreas dominadas por este. Segundo advogados ligados às lideranças presas, o PCC prioriza discrição e negócios internacionais, enquanto o CV segue praticando crimes com forte apelo de violência brutal e exibição pública.

Entre os episódios que teriam agravado o rompimento está o assassinato cruel de um turista em território controlado pelo CV no Rio de Janeiro. Ele teria sido sequestrado, torturado e forçado a ingerir partes do próprio corpo antes de ser incinerado, acusado de fotografar traficantes rivais. O caso foi citado por um advogado com acesso ao presídio de Bangu.

A divergência de perfil entre as facções também se reflete em regras internas. O CV, por exemplo, admite o recrutamento de adolescentes a partir dos 12 anos para o tráfico, enquanto o PCC impõe a idade mínima de 16. As diferenças se intensificaram em meio à disputa por rotas estratégicas do tráfico, especialmente nas fronteiras com países produtores de cocaína.

O CV mantém força na região amazônica, com presença em cidades-chave da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Já o PCC controla corredores terrestres, utilizando rotas pela Bolívia e Paraguai para abastecer centros urbanos como São Paulo.

Mato Grosso, no entanto, permanece fora do radar do rompimento. De acordo com autoridades ouvidas pela reportagem, não houve movimentações no sistema prisional estadual – como pedidos de transferência de presos, comumente vistos em casos de ruptura real entre facções. Isso reforça a tese de que o anúncio da separação pode ter sido estratégico e temporário, possivelmente para despistar investigações.

Outro ponto levantado por investigadores é o uso indevido do nome do PCC por membros do CV em golpes virtuais. Duas ocorrências de extorsão foram registradas em 2025, em que vítimas relataram ameaças feitas por criminosos que se identificaram falsamente como integrantes da facção paulista. Em um dos casos, a vítima perdeu R$ 9.300 – e o celular do golpista foi rastreado até o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

Para especialistas em segurança, a ausência de uma liderança centralizada nas facções dificulta o controle de ações locais e facilita conflitos. Enquanto o CV aposta em conexões com o tráfico internacional por vias fluviais e aéreas, o PCC mantém seu foco no transporte por rodovias e em atividades de lavagem de dinheiro em escala transnacional.

Apesar da tensão e da retórica de ruptura, as autoridades seguem cautelosas. Para elas, a aliança entre as facções pode estar mais viva do que as mensagens sugerem, e os reais interesses por trás do anúncio público ainda são alvo de monitoramento constante.

Comente esta notícia