Em uma decisão que promete ecoar pelos corredores do Judiciário, o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a Polícia Federal a utilizar veículos de magistrados e empresários investigados na Operação Sisamnes em novas ações policiais em Mato Grosso e Brasília.
Entre os carros liberados para o uso da PF estão um Toyota Corolla pertencente ao desembargador afastado João Ferreira Filho e uma caminhonete Hilux do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves. A autorização se estende ainda a um Honda HR-V, de Rafael Macedo Martins — servidor do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) —, além de um Toyota RAV4 do advogado Rodrigo Vechiato da Silveira e outra Hilux, registrada em nome de Mirian Gonçalves, esposa do lobista preso.
Os veículos serão incorporados à frota da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor), em Brasília, enquanto dois Corollas, também pertencentes a investigados, reforçarão as operações da PF em Mato Grosso.
A decisão de Zanin atende a um pedido da própria Polícia Federal e contou com parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR), que ressaltou a importância de dar destino útil a bens apreendidos, evitando deterioração e atendendo ao interesse público. O uso, porém, virá acompanhado de um relatório periódico, para monitorar o estado de conservação dos veículos.
Os bastidores do escândalo
A Operação Sisamnes investiga uma ampla rede de corrupção no Judiciário mato-grossense, com desembargadores, servidores, empresários e advogados sob suspeita de envolvimento na venda de decisões judiciais. João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes Filho foram afastados do TJMT pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em agosto de 2024, após indícios de participação no esquema.
As investigações ganharam impulso a partir da análise do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023 em Cuiabá. O aparelho revelou conversas comprometedoras entre Zampieri e magistrados, incluindo pedidos de presentes de luxo, barras de ouro e até transferências via PIX.
Apontado como operador-chave do esquema, Zampieri mantinha uma relação próxima com figuras do Judiciário, intermediando supostos pagamentos por sentenças favoráveis. Após seu assassinato, o cerco se fechou contra vários envolvidos, incluindo Andreson Gonçalves, preso desde novembro do ano passado.
O caso se desdobra em várias frentes, alcançando não apenas o TJMT, mas também outros tribunais superiores. Agora, com os veículos dos investigados a serviço da Polícia Federal, as investigações seguem em ritmo acelerado — e com um simbolismo que não passa despercebido.