A Polícia Federal apontou que o empresário Maurício Camisotti teria movimentado ao menos R$ 43 milhões em um esquema que aplicava descontos indevidos nas aposentadorias de milhares de brasileiros. O dinheiro teria sido repassado por entidades ligadas a aposentados, envolvidas em uma rede de fraudes que agora é alvo da Operação Último Desconto, deflagrada na quarta-feira (23).
Dono de empresas de saúde e seguros, Camisotti é investigado por comandar um sofisticado sistema de desvio de valores através de associações que ofereciam supostos benefícios a aposentados, cobrando mensalidades sem autorização. Entre as entidades investigadas estão a Ambec, Unsbras e o Cebap, todas com sede em São Paulo e faturamento conjunto de R$ 580 milhões somente no último ano.
A Justiça determinou o bloqueio de mais de R$ 160 milhões em bens e contas do empresário e da Ambec, a associação que mais repassou recursos às empresas de Camisotti. A decisão também autorizou buscas na residência dele, localizada em área nobre da capital paulista, e na sede das empresas envolvidas.
Família, fachada e cifras milionárias
A investigação revelou que a Ambec era comandada por pessoas próximas a Camisotti — incluindo faxineiras e familiares listados como diretores. A ex-presidente da entidade, Maria Inês Batista de Almeida, por exemplo, declarou ser auxiliar de dentista, mas foi identificada como funcionária de limpeza em uma das empresas do empresário.
Primos, irmãos e até um ex-cunhado aparecem como sócios ou administradores das empresas que recebiam os repasses das entidades. Juntas, as companhias Total Health, Prevident, Benfix e Rede Mais movimentaram milhões de reais oriundos das associações. A Prevident, sozinha, recebeu R$ 16,3 milhões.
A PF afirma que Camisotti utilizava “laranjas” para ocultar seu envolvimento direto nas operações financeiras suspeitas, e que o esquema já vinha sendo articulado há anos. Parte do dinheiro teria financiado uma vida de luxo e articulações com figuras políticas em Brasília.
Defesa se pronuncia
A defesa de Camisotti não comentou as acusações. Já o advogado da Ambec, Daniel Bialski, afirmou que a associação “é tão vítima quanto os próprios aposentados” e disse que todas as operações foram legais, com serviços efetivamente prestados aos associados.
Bialski alegou ainda que a Ambec colabora com as autoridades desde 2022, e que uma auditoria do próprio INSS confirmou a existência da entidade e o uso dos benefícios pelos aposentados.
Apesar da justificativa, a Polícia Federal prossegue com as investigações e não descarta novas fases da operação. O foco agora é rastrear o destino final dos recursos desviados e responsabilizar todos os envolvidos.