A crise no campo tem um novo capítulo dramático em Mato Grosso. A 4ª Vara Cível de Rondonópolis deu sinal verde para o processo de recuperação judicial dos produtores rurais Edinei Ricardo Antonovicz e Angela Lane Peruchini Vidori, que atuam em Paranatinga, a 376 km de Cuiabá. Com uma dívida que ultrapassa os R$ 30 milhões, o casal tenta reestruturar suas finanças em meio a um cenário que mistura perdas climáticas, instabilidade econômica e guerra internacional.
Segundo os autos, os problemas começaram ainda em 2014, agravando-se com os efeitos do El Niño, estiagens severas e uma quebra histórica de safra. “Somente no último ciclo, a perda da produção de soja no estado chegou a 21%”, relataram os produtores no processo.
Além dos impactos do clima, fatores externos também ajudaram a empurrar o negócio para o vermelho: a alta do dólar e o conflito entre Rússia e Ucrânia, que encareceram insumos e afetaram o mercado agrícola.
Com o processo de recuperação judicial autorizado, os produtores agora têm 180 dias de proteção judicial contra cobranças de dívidas, enquanto apresentam o plano de recuperação que será analisado por credores e pela Justiça.
A lista de credores revela a dimensão da crise: são dezenas de empresas, cooperativas e pessoas físicas espalhadas em três categorias de crédito. Só na Classe II (Garantia Real), o valor ultrapassa R$ 14 milhões, com destaque para a empresa Agrícola Alvorada S.A., que tem mais de R$ 7 milhões a receber.
Na Classe III (quirografários), as cifras impressionam: R$ 15,6 milhões, entre os quais aparecem o Banco Santander, cooperativas do Sicredi e diversos fornecedores de máquinas, sementes e serviços.
Confira alguns credores e valores destacados:
Agrícola Alvorada S.A. – R$ 10.645.000,00 (em diversas categorias)
Cooperativa Sicredi – mais de R$ 1,7 milhão
Americo Yoshio Nagano – R$ 2,58 milhões
Marcia Tomazzini – R$ 1,95 milhão
Pedro Gonçalves Dias – R$ 530 mil
Além dos créditos concursais, há ainda R$ 4,88 milhões em créditos extraconcursais, que não entram na suspensão temporária das cobranças.
A movimentação chama atenção pelo volume de dívida, mas também por ser mais um reflexo da dificuldade enfrentada por produtores rurais em Mato Grosso, estado que é líder na produção de grãos no Brasil, mas vem sendo castigado por extremos climáticos e incertezas do mercado global.