Sexta-feira, 18 de Julho de 2025

- DÓLAR: R$ 5,53

12 de Junho de 2025, 08h:23 - A | A

HOME » Judiciário » O que os gestos e silêncios dos oito réus revelaram nos interrogatórios do STF

SILÊNCIO ELOQUENTES

O que os gestos e silêncios dos oito réus revelaram nos interrogatórios do STF

No palco da Primeira Turma, ex-ministros e militares revelaram mais que palavras, entre tremores de Mauro Cid, a boca coberta de Bolsonaro e a "atitude de anfitrião" de Ramagem.



Brasília parou, mas não para uma sessão solene, e sim para um espetáculo de silêncios, gestos e dramas humanos. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) transformou-se no palco de uma inusitada encenação, onde os protagonistas do suposto plano golpista de 2022, agora sem a pompa de seus cargos, exibiram um corpo desconfortável diante de perguntas incômodas. Mais do que ouvir, bastava olhar para captar o clima tenso que pairava no ar no início desta semana.

O confronto de posturas
Mauro Cid, o delator, entrou no plenário calado e de cabeça baixa, uma imagem de encolhimento que contrastava com sua antiga posição de confidente. Cada vez que alguém sugeria que ele havia mentido na delação, seu rosto tremia, revelando a fragilidade sob o terno. Do outro lado da sala, o ex-presidente Jair Bolsonaro o observava sem piscar, com os braços cruzados, em uma cena que parecia uma tensa observação do homem que o serviu e agora o incrimina.

Clique aqui para entrar em nosso grupo do whatsapp 

Bolsonaro, aliás, foi um capítulo à parte. Antes do interrogatório, sua simpatia e sorrisos, tão incomuns em seus dias de cercadinho, davam a impressão de uma campanha prévia. No entanto, quando a sessão engrenou, o semblante se fechou, os braços cruzaram-se, e a mão cobriu a boca durante a maior parte do tempo. Seus olhos desviavam de Mauro Cid apenas para esquadrinhar as reações dos demais, como se fizesse um placar silencioso da situação.

Anderson Torres, ex-ministro e delegado da PF, mostrou-se distante da figura durona que empunhava a caneta na segurança pública. Com uma tornozeleira eletrônica sob a meia e o olhar fixo na madeira da bancada, suas respostas ao ministro Alexandre de Moraes eram baixas e curtas, a imagem de um funcionário pego de surpresa, não do homem que assinou portarias cruciais nos últimos dias de governo.

Em meio a essa atmosfera, Alexandre Ramagem destoava. Ex-diretor da Abin e agora deputado federal, mantinha a cabeça erguida, com uma postura de quem ainda se via no comando. Circulava com desembaraço nos intervalos, cumprimentava a todos sem cerimônia e, em um gesto que quebrou o protocolo, chegou a comer no local proibido, parecendo mais um anfitrião em visita guiada do que um investigado diante do Supremo.

Militares e o peso da farda
Os militares da ativa e da reserva também revelaram o peso da farda, mesmo fora dela. O almirante Almir Garnier manteve a compostura, mas a emoção aflorou ao lembrar seus mais de 50 anos de Marinha. Já o general Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa, parecia exausto e irritado, reclamando do advogado, das perguntas repetidas e do cronograma, sem disfarçar seu desconforto.

Augusto Heleno, conhecido como o fiel conselheiro de Bolsonaro, entrou franzino e saiu tagarela. Seu advogado tentava contê-lo, mas Heleno emendava respostas com comentários espontâneos. A idade e a fragilidade física contrastavam com a imagem austera que construiu ao longo da carreira. Por fim, Walter Braga Netto, o único preso, participou por videoconferência e surpreendeu pela aparente descontração, sorrindo entre seus advogados, quase fazendo esquecer que falava de uma prisão militar.

Ao final de dois dias de interrogatórios, a certeza era clara: ninguém saiu ileso. Se a estratégia de alguns era se defender falando pouco, muitos falaram com o corpo inteiro. E para quem acompanha os bastidores de Brasília, a sensação é que, embora o martelo do tribunal ainda não tenha sido batido, esse julgamento já começou.

Bastidores e curiosidades
Carteirada Frustrada: Liderados pelo deputado Zucco (PL-RS), cinco parlamentares bolsonaristas tentaram furar o cerco de segurança do STF sem credenciais, sendo barrados na entrada. Zucco esbravejou e tentou usar o "crachá" de deputado como passe livre, mas não adiantou.

Segurança reforçada: A segurança no plenário beirou o cenário de filme, com 60 policiais judiciais focados em proteger Alexandre de Moraes e o procurador-geral Paulo Gonet. Para evitar arremessos, as cadeiras dos interrogados foram amarradas, microfones presos com lacres, e copos de vidro substituídos por versões de papel. Moraes, porém, ordenou: "Tirem os lacres, aqui não é presídio".

Selfie inusitada: Assim que Bolsonaro entrou no plenário, um grupo de servidores do STF, incluindo membros da Primeira Turma e do cerimonial da Corte, tietou o ex-presidente com sorrisos e celulares em punho. A foto foi feita, mas logo vieram os pedidos aflitos para apagar a imagem: "Será que dá pra apagar a imagem? Ou a gente perde o emprego", cochichou um assessor à reportagem.

Comente esta notícia