O juiz Ivan Lucio Amarante, afastado da 2ª Vara de Vila Rica, virou alvo de uma nova ofensiva da Polícia Federal e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por suspeita de acumular um patrimônio milionário não declarado, sustentado, segundo os investigadores, por um esquema de venda de sentenças e lavagem de dinheiro. O magistrado teria usado empresas de fachada, nomes de familiares e pagamentos em espécie para ocultar a origem dos recursos.
Na lista de aquisições investigadas estão joias de alto valor, relógios de grife, armas de fogo, apartamentos e terrenos, muitos dos quais não constam em sua declaração de imposto de renda. O CNJ classificou esse conjunto de bens como um “patrimônio invisível”, supostamente fruto de corrupção.
Ivan Lucio foi alvo da 8ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada nesta quinta-feira (29/5) em Cuiabá, com cumprimento de mandados de busca, apreensão e bloqueio de até R$ 30 milhões em bens e valores.
O celular que virou bomba
O fio da meada surgiu a partir da apreensão do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em 2023 em meio a uma disputa milionária por terras. O aparelho, apelidado pelos investigadores de “iPhone bomba”, revelou diálogos que expuseram um suposto esquema de venda de decisões judiciais em Mato Grosso e outros estados.
As conversas apontam uma relação de subserviência do juiz Ivan Lucio ao advogado, seu amigo pessoal, trocando favores por pagamentos milionários. Dados levantados pela inteligência do CNJ mostram que empresas abertas em nome da atual esposa e da ex-mulher de Ivan eram usadas para movimentar recursos de origem ilícita.
Dinheiro sem origem e compras de luxo
De acordo com os levantamentos, foram identificados aportes de pelo menos R$ 1,09 milhão nas contas do magistrado, sem qualquer justificativa legal. O valor pode ser ainda maior, já que não foram analisados os extratos da atual esposa.
Entre as compras de luxo, destacam-se:
Joias no valor de R$ 107,9 mil adquiridas da joalheira Cecilia Maria de Araújo Borges;
Peças da grife Bulgari, avaliadas em R$ 117,8 mil;
Armas de fogo totalizando R$ 96 mil;
Imóveis em Cuiabá e Vila Rica, com valores que somam mais de R$ 980 mil, pagos sem origem comprovada nos registros bancários.
Nenhum desses bens foi declarado formalmente no imposto de renda do magistrado.
Decisão mantém juiz afastado
Na sessão de terça-feira (27/5), o CNJ decidiu instaurar um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra Ivan Lucio, mantendo seu afastamento e reforçando os indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.
O relator do caso, ministro Campbell Marques, detalhou como o juiz usava sua influência para atender aos interesses de Zampieri, inclusive com atuação direta em decisões judiciais supostamente vendidas.
Além de Ivan Lucio, também foram afastados os desembargadores João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes, alvos da mesma investigação.
Sete e oito: operação segue avançando
Essa nova etapa é sequência da 7ª fase da Operação Sisamnes, que prendeu militares e empresários envolvidos no mesmo esquema, incluindo o coronel do Exército Etevaldo Luiz Caçadini.
As investigações seguem em curso e podem atingir novos alvos dentro e fora do Poder Judiciário de Mato Grosso.
Fonte: Olhar Direto