02 de Junho de 2025, 11h:09 - A | A

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CONEXÃO COM SUBMUNDO

Juiz afastado diz que bolada de R$ 750 mil a pais de santo seria para seu desenvolvimento espiritual

Da Redação



O juiz Ivan Lúcio Amarante, afastado da 2ª Vara de Vila Rica (MT), virou alvo de mais um capítulo de um escândalo que envolve corrupção, lavagem de dinheiro e conexões com o submundo espiritual. Investigado na Operação Sisamnes, o magistrado alegou que parte dos R$ 750 mil em dinheiro vivo que circulou nas contas de empresas ligadas a ele foi destinada ao seu “desenvolvimento espiritual”, com pagamentos robustos a pais de santo em Mato Grosso e São Paulo.

A justificativa foi apresentada ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como forma de rebater as acusações de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. Segundo a investigação, o juiz criou empresas de fachada no nome da atual esposa e da ex-mulher, formalmente no ramo de logística e transporte, mas que nunca tiveram sequer um funcionário registrado.

Dados apurados revelam que, só entre setembro de 2023 e julho de 2024, o juiz recebeu 43 depósitos em espécie, que somam exatamente R$ 750.900,00. O dinheiro, segundo ele, teria como destino práticas religiosas e espirituais.

Entre os beneficiados, estão nomes como Fernando César Parada, dirigente de um terreiro em São Paulo, que recebeu R$ 250 mil, além de outros valores destinados a religiosos em Cuiabá e até uma mulher no Uruguai, apontada como amante do juiz.

O rastro financeiro, no entanto, não convenceu o relator do caso no CNJ, ministro Campbell Marques, que destacou uma série de inconsistências:

Empresas sem empregados;

Transferências fracionadas em valores idênticos;

Montantes incompatíveis com o faturamento declarado;

E um padrão típico de lavagem de dinheiro.

O CNJ manteve, na última terça-feira (27), o afastamento do magistrado e autorizou a abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), além do envio das provas para investigação criminal.

A trama veio à tona após a quebra de sigilo do celular do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em 2023, em meio a uma disputa por terras de R$ 100 milhões. O aparelho, apelidado pela PF de “iPhone Bomba”, revelou diálogos que escancararam um suposto esquema de venda de sentenças no Judiciário de Mato Grosso, envolvendo não só o juiz Ivan Lúcio, mas também os desembargadores João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes, ambos afastados desde 2023.

Além das transferências a líderes religiosos, a Polícia Federal descobriu que Ivan também operava uma segunda empresa fantasma em nome da ex-mulher, pela qual teria recebido mais de R$ 208 mil em dinheiro vivo.

O juiz, em sua defesa, nega qualquer crime, afirma que os diálogos extraídos do celular foram “tirados de contexto” e sustenta que as empresas “terceirizavam serviços”, mesmo sem provas de que atuavam efetivamente no ramo de transporte.

A mais recente fase da operação, deflagrada na última quinta-feira (29), cumpriu mandados de busca, apreensão e bloqueio de R$ 30 milhões em bens do juiz. A PF segue apurando o suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que, segundo os investigadores, operava em larga escala dentro do Judiciário mato-grossense.

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