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QUATRO ATOS

Do comando ao disfarce: veja como foi arquitetado o assassinato de Renato Nery

Casal mandante, PMs executores e fraude nas provas fazem parte do esquema revelado pelo Ministério Público

Da Redação



O Ministério Público (MPE) de Mato Grosso desvendou a complexa teia por trás do assassinato do advogado Renato Nery, ocorrido em Cuiabá no ano passado. A denúncia detalha um esquema dividido em quatro núcleos de operação: comando, intermediação, operacional e de obstrução. Essa organização criminosa veio à tona com a acusação formal contra quatro policiais militares da Rotam, que teriam forjado um confronto armado para eliminar uma pessoa e tentar contra outras duas, tudo para atrapalhar a investigação do homicídio de Nery.

A motivação para o assassinato, conforme o promotor Henrique Pugliei, está ligada a uma disputa por terras avaliadas em mais de R$ 40 milhões. O casal Cesar Sechi e Julinere Goulart, atualmente presos, é apontado como o "núcleo de comando". Inconformados com a vitória de Nery na briga judicial pelas propriedades, eles teriam ordenado o crime. A ligação entre os mandantes e o executor foi feita pelo agente da Rotam Heron Teixeira Pena Vieira, líder do "Núcleo de Intermediação". Ele é acusado de negociar valores, repassar as ordens e garantir que as determinações do casal fossem cumpridas, inclusive providenciando o esconderijo, a arma e a motocicleta usados no crime. A chácara de Heron, em Várzea Grande, serviu como o "QG" para planejar o assassinato.

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O "Núcleo Operacional" era integrado por Alex Roberto de Queiroz Silva, caseiro contratado por Heron. Alex teria sido o responsável por monitorar Nery e, de fato, efetuar os disparos fatais de 9mm que tiraram a vida do advogado. Já o "Núcleo de Obstrução" é composto pelos quatro policiais militares denunciados: Jorge Rodrigo Martins, Wailson Medeiros Ramos, Wekcerley Benevides e Leandro Cardoso. A eles é atribuída a responsabilidade de ocultar a arma do crime em um cenário forjado e realizar outras ações para dificultar as investigações, incluindo a falsificação de depoimentos e a coordenação de versões em um grupo de WhatsApp, evidenciando a tentativa de desviar o foco da apuração.

Seis dias após a execução de Nery, os quatro policiais militares foram acusados de assassinar Walteir e tentar contra Pedro e Jhuan em um suposto confronto na Avenida Contorno Leste. A perícia revelou um elo crucial: a mesma pistola Glock 9mm, usada no assassinato de Nery, foi encontrada com as vítimas desse "confronto". Além disso, as munições recolhidas na cena do crime do advogado pertenciam à Polícia Militar de Mato Grosso, especificamente ao Batalhão da Rotam, o mesmo onde os denunciados atuavam. Análises forenses de celulares comprovaram a coordenação para a falsificação de depoimentos, com os PMs expressando preocupação com divergências nas versões e o fato de seus depoimentos estarem sendo filmados. Áudios de Wailson Ramos ainda revelaram uma "naturalização da violência letal" e a crença de que confrontos devem resultar em mortes.

Diante da gravidade dos crimes e do uso do aparato estatal para fins criminosos, o promotor pediu à 7ª Vara Criminal a prisão preventiva dos denunciados. No entanto, o juiz Francisco Ney Gaíva, da 14ª Vara Criminal de Cuiabá, concedeu liberdade provisória aos quatro policiais no final do mês passado, com medidas cautelares como apresentação trimestral de atividades e recolhimento domiciliar noturno. A empresária Julinere Goulart, por sua vez, confessou à Justiça que ordenou a morte de Nery após seu marido, Cesar Sechi, reclamar insistentemente que o advogado havia tomado suas terras, revelando a raiva e o rancor como motivação principal para o crime.

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