A intensificação das políticas migratórias do ex-presidente Donald Trump, voltadas para a deportação em massa de imigrantes sem documentação, começou a impactar diretamente o agronegócio americano, setor que historicamente depende da mão de obra estrangeira legal ou não para manter a produção nas lavouras, nos laticínios e nos frigoríficos do país.
Após um início de ano com relativa trégua nas fiscalizações no setor agrícola, as ações recentes da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) mudaram o cenário. Nesta semana, dezenas de trabalhadores foram detidos em operações simultâneas em fazendas e unidades de embalagem da Califórnia, Nebraska e Novo México. O clima de medo se espalhou entre agricultores e produtores, que agora enfrentam incertezas quanto à continuidade das atividades e à permanência de seus funcionários.
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Só na terça-feira (10), agentes do ICE retiraram imigrantes de campos no Vale de San Joaquin e de um frigorífico em Omaha, além de prender 11 pessoas em uma fazenda de laticínios no Novo México. As batidas acenderam o alerta em sindicatos rurais, que classificaram a ofensiva como “devastadora” para a base produtiva americana.
De acordo com especialistas em política agrícola, mais da metade dos trabalhadores do campo nos Estados Unidos são imigrantes e muitos vivem em situação irregular. A repressão em curso, impulsionada pela promessa de Trump de deportar 1 milhão de pessoas até o fim do ano, ameaça não apenas famílias, mas todo o sistema de produção e abastecimento do país.
“Estamos vivendo uma contradição perigosa: o mesmo governo que quer garantir comida na mesa dos americanos está tirando das lavouras as mãos que colhem essa comida”, afirmou um porta-voz de uma cooperativa da Califórnia, sob anonimato, temendo retaliações.
Organizações de direitos humanos e representantes do setor agrícola já se mobilizam para pedir uma política migratória mais equilibrada, que preserve a legalidade, mas reconheça a importância vital dos imigrantes para a economia rural americana.
Se o ritmo das operações continuar, o impacto poderá ser sentido nas gôndolas e nos preços dos alimentos em poucos meses alertam analistas. Para muitos, a crise migratória nos EUA, agora diretamente ligada à produção de alimentos, deixa um recado claro: a deportação de trabalhadores pode custar caro ao prato do americano comum.