O tamanho da fila de espera no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é muito maior do que os números oficialmente divulgados. Dados inéditos revelam que, considerando todas as demandas pendentes — inclusive as que não entram na chamada “fila oficial” —, mais de 10 milhões de pedidos aguardavam análise em março deste ano. Isso representa quase quatro vezes o número apresentado pela própria autarquia, que na mesma data somava 2,7 milhões de requerimentos.
O que não aparece na fila oficial
A contagem do INSS costuma incluir apenas benefícios como aposentadorias, pensões, auxílio-reclusão, salário-maternidade, auxílio-doença e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Ficam de fora, no entanto, uma série de demandas que impactam diretamente a vida de milhões de brasileiros.
Entre os pedidos ignorados na estatística oficial estão, por exemplo:
Recursos contra decisões negativas, que ocupam o segundo lugar no ranking de pendências;
Seguro defeso, pago a pescadores artesanais durante o período de proibição da pesca, no quarto lugar;
Revisões de benefícios e
Pendências no MOB (Monitoramento Operacional de Benefícios), que investiga fraudes e inconsistências, ocupando a terceira posição na lista.
Outro item com alto volume é a chamada “Qualificação da Folha”, que trata de erros cadastrais e ocupa o sexto lugar em volume de demandas acumuladas.
Espera que beira o absurdo
A situação é crítica: 72,6% dos pedidos estão parados há mais de 45 dias, limite legal para análise dos benefícios. O tempo médio de espera hoje é de impressionantes 468 dias, mais de um ano e três meses.
E há casos piores. Pedidos de recurso, por exemplo, demoram em média 845 dias, praticamente dois anos e meio. Já as análises dentro do MOB — geralmente relacionadas a suspeitas de fraude — chegam a levar 853 dias.
O campeão em lentidão é a "Qualificação da Folha", com média de 1.145 dias de espera, quase três anos e dois meses.
Fila cresce, promessa emperra
Zerar a fila do INSS foi uma das principais promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 e reafirmada em sua posse. No entanto, os números seguem em alta.
Em março deste ano, a fila oficial bateu o recorde histórico, chegando a 2,7 milhões de pedidos, superando o pico anterior de 2019, que somava 2,4 milhões.
O presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, reconhece o problema e atribui parte do crescimento às greves de servidores e peritos no ano passado, além do aumento nas exigências para concessão do BPC.
Solução à vista?
O INSS aposta em mutirões a partir de junho para tentar destravar a fila, que cresce a cada mês por falta de servidores, problemas estruturais e deficiência tecnológica, segundo funcionários do próprio órgão.
O que diz o INSS
Em nota, o INSS rebate os dados e afirma que não reconhece os números levantados pela reportagem. Segundo o órgão, a fila oficial contempla apenas pedidos de benefícios previdenciários e assistenciais aguardando análise inicial. As demais demandas são tratadas como “internas, sazonais ou de responsabilidade de outros órgãos” e, por isso, não entram na estatística oficial.
Fonte: G1