Da Redação
Israel intensificou suas operações militares na Faixa de Gaza desde 17 de maio, com o objetivo declarado de libertar os reféns, assumir o controle total do território palestino e desmantelar o movimento islâmico Hamas. A ofensiva resultou em um aumento significativo no número de vítimas e em uma situação humanitária cada vez mais crítica.
Nesta quinta-feira (29/5), "44 pessoas foram mortas em ataques israelenses na Faixa de Gaza" desde a meia-noite, conforme informou Mohammed Al-Moughayir, um dos diretores da Defesa Civil de Gaza.
Ele detalhou que "vinte e três pessoas foram mortas, outras ficaram feridas e várias estão desaparecidas após um ataque israelense contra uma casa" no campo de refugiados de Al-Bureij, na região central. Além disso, foram relatadas "duas pessoas mortas e várias feridas pelas forças israelenses esta manhã perto do centro de ajuda americano" no sul do enclave.
Questionado sobre os incidentes, o Exército israelense declarou que está investigando, afirmando em comunicado ter atingido "dezenas de alvos terroristas em toda a Faixa de Gaza" no último dia.
Crise humanitária se agrava com dificuldade no acesso à ajuda
Enquanto a campanha militar se intensifica, Israel suspendeu parcialmente o bloqueio total à ajuda humanitária a Gaza, imposto desde 2 de março. No entanto, a chegada de suprimentos continua sendo um desafio.
Na noite de quarta-feira (28/5), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) divulgou um comunicado expressando preocupação com a situação. "Hordas de pessoas famintas invadiram o armazém (…) em busca de alimentos que haviam sido pré-posicionados para distribuição", disse o PMA, que também busca confirmar relatos de duas mortes e vários feridos durante o incidente. O órgão reforçou que tem "alertado insistentemente sobre a deterioração da situação (…) e os riscos representados pela limitação da ajuda humanitária a pessoas famintas que precisam desesperadamente de assistência". Imagens mostram a multidão levando tudo o que encontrava, enquanto tiros ecoavam.
A distribuição caótica não é um fato isolado. Na terça-feira (27/5), um incidente similar em um centro administrado pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF) deixou 47 feridos, de acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados. A GHF, uma nova organização com apoio de Israel e dos Estados Unidos, implementou um sistema de distribuição duramente criticado pelo chefe da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini.
O Exército israelense reconheceu ter efetuado "tiros de advertência para o ar" por seus soldados "do lado de fora" do centro da GHF, mas negou ter atirado contra pessoas. A própria GHF também refutou qualquer disparo contra a multidão.
Nesta quinta-feira, grandes aglomerações de moradores de Gaza foram observadas em um ponto de distribuição de ajuda da GHF em Rafah, no sul do território. "Eles trouxeram 200 caixas para 20 mil pessoas, ou até 200 mil. Cheguei aqui às 4h da manhã e não havia ninguém. Por volta das 4h30, havia uma multidão inteira lá", relatou Saleh al-Shaer, um morador. Outro residente, Sobhi Arif, carregando um saco de farinha, lamentou: "O que está acontecendo conosco é humilhante. (…) Vamos lá e arriscamos nossas vidas só para conseguir o suficiente para alimentar nossos filhos."
Desdobramentos no conflito e estatísticas
No âmbito militar, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou na quarta-feira (28/5) a morte de Mohammed Sinwar, apontado como líder do Hamas em Gaza. Ele teria sido alvo de um ataque israelense em 13 de maio, em Khan Yunis, no sul de Gaza.
Desde o ataque de 7 de outubro, 1.218 pessoas, majoritariamente civis, morreram do lado israelense, segundo dados oficiais. Das 251 pessoas sequestradas, 57 permanecem em cativeiro em Gaza, sendo que pelo menos 34 delas estariam mortas, conforme autoridades israelenses.
Em contrapartida, a campanha de retaliação israelense resultou na morte de mais de 54.249 palestinos, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, cujos dados são considerados confiáveis pela ONU.