Da Redação
A situação do ativista brasileiro Thiago Ávila, detido em Israel, se agravou. Advogados que o defendem, ligados à organização de direitos humanos Adalah, informaram que ele foi colocado em confinamento solitário e transferido para uma prisão separada dos demais ativistas. A punição, segundo a Flotilha da Liberdade Brasil, entidade que organizou a missão humanitária para a Faixa de Gaza, ocorreu após Thiago iniciar uma greve de fome pela sua libertação. O caso é considerado um crime de guerra pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos.
A defesa de Thiago Ávila e dos demais detidos argumenta que eles não cometeram nenhum crime, mas sim foram sequestrados pelas forças israelenses. Isso porque a interceptação do barco que levava alimentos e remédios para Gaza teria ocorrido em águas internacionais. A organização Adalah exige a libertação imediata de todos os oito ativistas e pede o fim das ações de retaliação. Um comunicado da coalizão que tentou furar o bloqueio de Israel contra Gaza detalha que Thiago "foi colocado em isolamento na prisão de Ayalon por causa de sua greve de fome e sede, que começou há dois dias", e que tem sido tratado agressivamente, embora sem agressão física.
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Na manhã desta quarta-feira (11), o Judiciário israelense decidiu pela deportação do brasileiro até quinta-feira (12), mas sem definir um horário. A esposa de Thiago, Laura Souza, expressou preocupação. Poucas horas após saber da decisão sobre a deportação, ela recebeu outra ligação da advogada informando sobre a transferência para a cela solitária. "Há informações conflitantes. Eles estão dizendo que ele partirá no próximo voo e depois marcando uma audiência para julho. Então, estou muito nervosa e não sei bem o que está acontecendo", lamentou em uma rede social.
Thiago Ávila e outros 11 ativistas foram presos pela Marinha israelense enquanto tentavam chegar à Faixa de Gaza. O território sofre há mais de três meses com um bloqueio israelense que tem provocado fome em quase 2 milhões de palestinos. Outra ativista, a euro-deputada franco-palestina Rima Hassan, também teria sido colocada em solitária por escrever "Palestina Livre" na parede da cela, mas depois retornou à prisão de Givon, onde estão os outros detidos. Thiago, contudo, permanece isolado. "O ato de isolamento e transferência para diferentes prisões constituem uma séria violação dos direitos dos voluntários e uma tentativa clara de exercer a eles uma pressão mental e política", afirma a Flotilha da Liberdade.
A Agência Brasil entrou em contato com a Embaixada de Israel no Brasil para obter um posicionamento sobre a transferência de Thiago para a solitária, mas a assessoria informou que não comentaria o assunto. Em nota, a embaixada se limitou a dizer que o brasileiro está sob custódia das autoridades israelenses e que, por ter se recusado a assinar uma deportação voluntária, "ele precisa passar por um processo legal que permitirá isso".
O Itamaraty, em nota divulgada na noite de ontem (10), condenou a prisão do brasileiro, informando que acompanha o caso e exige a libertação dos detidos. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a prisão em águas internacionais é uma "flagrante transgressão ao direito internacional". "O Brasil clama pela libertação de seu nacional e insta Israel a zelar pelo seu bem-estar e saúde", destaca o texto. Thiago não foi deportado imediatamente, como a ambientalista sueca Greta Thunberg, justamente por se recusar a assinar um documento que o faria reconhecer um suposto crime.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) foi além e classificou a interceptação do navio Madeleine, da Flotilha da Liberdade, por Israel, como um crime de guerra. O conselho pediu ao governo brasileiro a suspensão das relações diplomáticas e comerciais com Tel Aviv, argumentando que "a interceptação de embarcação civil com finalidade exclusivamente humanitária, em águas internacionais, configura grave violação aos tratados internacionais ratificados pelo Estado de Israel, além de significar um crime de guerra".