Da Redação
Um Cessna Citation Latitude, jato executivo de médio porte fabricado pela americana Cessna Aircraft Company (subsidiária da Textron Aviation), com valor estimado a partir de US$ 20 milhões (cerca de R$ 111,8 milhões), chegou ao Brasil antes do previsto para participar de dois eventos. O destino principal era o Catarina Aviation Show, feira fechada da JHSF e NürnbergMesse Brasil, em São Roque (SP), que ocorre até este sábado (7).
Antes de pousar em solo paulista, no entanto, a aeronave fez uma escala especial em Cuiabá (MT), nos dias 30 e 31 de maio, onde participou da Bom Futuro Experience, feira organizada pela influente família Maggi Scheffer, no aeroporto privado da própria família, que já recebeu investimentos de R$ 100 milhões.
Embora ainda não existam unidades do Latitude registradas em operação no Brasil, fontes do setor afirmam que o modelo já foi adquirido e deve estrear no país no próximo ano — e sim, com destino ao agronegócio. O jato acomoda até nove passageiros e possui autonomia de cerca de 5 mil quilômetros, ideal tanto para voos internacionais quanto para cobrir as longas distâncias entre propriedades rurais.
Agro decola com aviação
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o país conta com 15.499 aeronaves civis registradas. O estado de São Paulo lidera o ranking, seguido pela região Centro-Oeste, com destaque para Mato Grosso, que possui 1.857 aeronaves, sendo o segundo maior polo do país, à frente de Minas Gerais (1.706) e Paraná (1.635).
A expansão da aviação agrícola e executiva tem impulsionado grandes investimentos em logística aérea. Um dos protagonistas dessa transformação é a Pioneiro Combustíveis, que nasceu em Manaus justamente por ser ponto de entrada de aeronaves vindas do exterior. Hoje, a empresa atua em 34 aeroportos e movimenta cerca de 60 milhões de litros de combustível por mês, com previsão de R$ 380 milhões em faturamento para 2025 — quase o dobro dos R$ 180 milhões de cinco anos atrás.
“Com a mecanização da lavoura, o avião virou ferramenta mais eficiente que o trator. Isso impulsionou também a aviação executiva”, explica Rolf Tambke, da segunda geração à frente da empresa.
Infraestrutura sob medida
No Mato Grosso, a Pioneiro opera em Alta Floresta, Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Primavera do Leste, Canarana e Cuiabá. Em algumas localidades, constrói infraestrutura completa de abastecimento, com postos, tanques homologados e certificações da Anac. A base de maior porte fica em Sorriso, com capacidade para 400 mil litros.
Além da Bom Futuro, outra estrutura importante no estado é o Aeroporto Executivo de Santo Antônio do Leverger, com pista de 1.800 metros e operação 24 horas. O local receberá a Feira da Aeronave, voltada para compra e venda de aviões, entre 19 e 21 de agosto. Já a Bom Futuro Experience, segundo os organizadores, deve se tornar evento anual.
Segundo Eraí Maggi Scheffer, fundador do grupo Bom Futuro, o investimento no novo terminal de passageiros (R$ 25 milhões) é estratégico: “Transformamos uma necessidade logística em um ativo. Aqui o avião pousa e o executivo volta no mesmo dia para São Paulo. Isso atrai negócios”, explica.
Hoje, cerca de 70 aeronaves estão hangariadas no aeroporto, 95% de produtores rurais, com valor estimado em R$ 1,1 bilhão.
Avião deixou de ser luxo
Para especialistas, como Luiz Stumpf, gerente de vendas da TAM Aviação Executiva, o avião hoje é ferramenta de produtividade. “Não é luxo, é operação. O produtor participa de reuniões, negociações internacionais e precisa de mobilidade rápida.”
A TAM, que representa Cessna, Beechcraft e Bell Helicópteros no Brasil, viu aumento expressivo na demanda, especialmente no Centro-Oeste e no Matopiba (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia), que soma 1.148 aeronaves registradas.
Entre os modelos preferidos estão os turboélices, como o King Air, ideais para pistas não asfaltadas, e jatos leves, como o Citation M2 e o CJ3, indicados para voos mais longos.
Já os helicópteros, segundo Daniel Cagnacci, da Bell Helicópteros, vêm sendo adotados por sua versatilidade e rapidez em curtas distâncias, inclusive em locais sem infraestrutura de pista. “Há produtores que preferem começar pelo helicóptero, pela agilidade e menor exigência de estrutura”, conta.
Conectando o campo ao mundo
Hoje, muitos produtores compõem frotas mistas, com aviões e helicópteros. “Um cobre distâncias médias e interestaduais, o outro permite visitas técnicas e transporte ágil entre fazendas”, diz Stumpf.
A lógica é clara: o tempo virou um ativo estratégico no agronegócio — e a aviação, a chave para aproveitá-lo ao máximo.