A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) criticou o Plano Safra 2025/26 anunciado nesta terça-feira (1º) pelo Governo Federal, afirmando que o volume real de crédito disponível ao agronegócio é inferior ao anunciado e que as altas taxas de juros tornam o financiamento inviável, principalmente para pequenos e médios produtores.
Embora o governo tenha anunciado R$ 516,2 bilhões em recursos, a Aprosoja aponta que cerca de R$ 185 bilhões serão viabilizados por meio de Cédulas de Produto Rural (CPR) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), instrumentos privados com taxas livres e sem controle do governo. Isso, segundo a entidade, representa uma redução prática de 17,3% no volume de recursos efetivamente controlados e acessíveis aos produtores.
"O que temos é menos dinheiro disponível para contratar, com custos mais altos e exigências burocráticas que limitam o acesso ao crédito", afirmou o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber.
De acordo com a associação, o crescimento nominal de apenas 5% nos recursos controlados não cobre sequer a inflação dos últimos 12 meses, resultando em perda de poder de compra no campo. Além disso, parte desses recursos já está comprometida com financiamentos antigos, o que limita ainda mais a margem para novos investimentos.
A Aprosoja também aponta que a linha de crédito para custeio empresarial, na qual se enquadra a maioria dos produtores, teve a taxa elevada de 12% para 14% ao ano, o que, segundo o diretor administrativo da entidade, Diego Bertuol, comprova a queda gradativa na eficiência do Plano Safra.
O novo plano prevê taxas entre 8,5% e 14% ao ano para custeio e investimento, e 10% ao ano para o Pronamp, programa voltado a pequenos e médios produtores. Para a Aprosoja, esses índices comprometem o acesso ao crédito, principalmente em um cenário de endividamento elevado e necessidade de quitação de dívidas anteriores.
Outro ponto de crítica diz respeito ao Programa de Construção de Armazéns (PCA). A entidade havia sugerido ampliar o orçamento para R$ 9 bilhões com condições facilitadas, mas o governo destinou apenas R$ 3,7 bilhões para estruturas de até 12 mil toneladas e R$ 4,5 bilhões para armazéns maiores, com juros de 8,5% e 10% ao ano, respectivamente.
A Aprosoja também solicitou um incentivo maior para produtores que aderirem a programas de sustentabilidade, propondo um desconto de 1 ponto percentual nas taxas de juros. Segundo a entidade, o governo concedeu apenas metade desse percentual, sem avanços concretos nas políticas ambientais do setor.
"Alguns parâmetros soam inexequíveis diante do atual cenário econômico. É preciso conter o crescimento dos gastos públicos e adotar um ajuste fiscal, para que as ferramentas monetárias funcionem em favor da produção de alimentos", reforçou Lucas Costa Beber.
Para a Aprosoja, o Plano Safra 2025/26 carece de avanços estruturais e peca pelo excesso de regulamentações que, na prática, dificultam o acesso do produtor ao crédito rural. A entidade afirma que continuará defendendo uma política agrícola nacional "concreta, viável e com condições justas" para garantir o financiamento e a competitividade do agronegócio brasileiro.